domingo, 17 de maio de 2009

Filosofia e empreendedorismo

Minha viagem empreendedora entra nos caminhos da filosofia. O empreendedor é um explorador do conhecimento. Nunca um estudioso apenas. Ele transpassa a academia , as teses, as simulações. Vai ao mundo real e bruto onde passa a lapidar com as ferrramentas que tem o seu objetivo. Ele deixa sua marca.


Aristóteles afirmava que todo Homem tem impulso pelo conhecimento. Mas aí, vago-me a pensar na diferença de impuslo para motivação. Talvez esta última varia a intensidade do impulso. E para ser empreendedor, o mergulho no conhecimento se torna inevitável. È assim que encontro um pequeno opúsculo com o título O que é o iluminismo? Nele, encontro o autor, Emmanuel Kant, usando o termo que preenche as lacunas do meu devaneio.”Sapere Aude- Ouse saber”.
A ousadia é o elixir que faltava para entendermos o conhecimento do empreendedor. Diferente de um simples amor platônico, quem empreende ama o que faz e não para nunca de fazer. Correr atrás. Ousar sair do ponto fixo, das certezas ditadas; dos dogmas impostos; da cultura aprendida desde cedo. Ousadia é dizer que Aristóteles não foi completo na sua teoria. Evidente que depois da ousadia há a necessidade de um embasamento para se diferenciar dos tolos que simplesmente se arriscam sem um propósito ou por mera rebeldia.
Questionar sempre devia ser um pressuposto para se manter vivo. Mas não é. É o básico para ser ousado. Para ser empreendedor.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Paraíso S.A

Foi tudo muito rápido. A executiva bem-sucedida sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou. Deu um gemido e apagou.Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diantede um imenso Portal.Ainda meio zonza, atravessou-o e viu uma miríade de pessoas.Todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas.Sem entender bem o que estava acontecendo,a executiva bem-sucedida abordou um dos passantes:
- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para o meu escritório, porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho quefui trazida para cá por engano, porque meuconvênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
- No céu.
- No céu?...
- É.- Tipo assim... o céu, CÉU...! Aquele com querubins voando e coisas do gênero?
- Certamente. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.
Apesar das óbvias evidências nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), a executiva bem-sucedidacustou um pouco a admitir que haviamesmo apitado na curva.Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis técnicas avançadas de negociação, de que aquelasituação era inaceitável. Porque, ponderou,dali a uma semana ela iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotada para assumir a posição de presidente doconselho de administração da empresa.E foi aí que o interlocutor sugeriu:
- Talvez seja melhor você conversar com Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim?(...)
- Pois não?
A executiva bem-sucedida quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo,estava o próprio Pedro.Mas, a executiva havia feito um curso intensivo de approach para situações inesperadas e reagiu rapidinho:
- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou uma executiva bem-sucedida e...
- Executiva... Que palavra estranha. De que século você veio?
- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo 'executiva'?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.Foi então que a executiva bem-sucedida teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerdaem modernas técnicas de gestão mpresarial.Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, a executiva poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assimdizer, celestial ali na organização.
- Sabe, meu caro Pedro. Se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, sóbatendo papo e andando a toa, para perceberque aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PHD em reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabequem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo isto aqui vai acabar virandouma anarquia. Mas nós dois podemos consertartudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante. ..
- É claro que, antes de tudo, precisaríamos de uma hierarquização e um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupoe avaliações de perfis psicológicos nãoconsigam resolver.
- !!!...???... !!!...??? ...!!!
- Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamosalgumas metas factíveis de leverage,maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?
- Sobre todas as coisas.
- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias high-tech, redigir manuais deprocedimento, definir o marketing mix einvestir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado telestérico, por exemplo, me pareceextremamente atrativo.
- Incrível!
- É óbvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneraçãoatraente, é claro. Coisa assim desalário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenhocerteza de que você vai concordar comigo,Pedro. O desafio que temos pela frente vai resultar em um Turnaround radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que você terá um futuro brilhante... se for trabalhar com o nosso concorrente. Porque você acaba de descrever,exatamente, como funciona o Inferno...
Max Gehringer(Revista Exame)